quarta-feira, novembro 28, 2007

Ao longo da muralha



Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.

Mário Cesariny

Foto:Yuri Bonder

3 comentários:

Paula Raposo disse...

Belo poema de palavras!

Fatyly disse...

Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar
...............
Não conhecia e tem uma mensagem forte e verdadeira. Gostei muito!

Beijocas

papagueno disse...

Mais uma vez cesariny, nunca são demais.
Beijos