sexta-feira, agosto 24, 2007

Lamento do Oficial por seu Cavalo Morto



Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
pelo nossa cabeça embrulhada em séculos de sombra,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens
que trazemos por dentro, e ficam sem explicação.
Criamos o fogo, a velocidade, a nova alquimia,
os cálculos do gesto, embora sabendo que somos irmãos. Temos até os átomos por cúmplices, e que pecados
de ciência, pelo mar, pelas nuvens, nos astros!
Que delírio sem Deus, nossa imaginação!
E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.
Animal encantado - melhor que nós todos!
- que tinhas tu com este mundo
dos homens?

Aprendias a vida, plácida e pura, e entrelaçada
em carne e sonho, que os teus olhos decifravam...

Rei das planícies verdes, com rios trêmulos de relinchos...

Como vieste morrer por um que mata seus irmãos!

Cecília Meireles

Foto:Wojtek Kwiatkowski

4 comentários:

poetaeusou . . . disse...

*
cecilia meirelles
,
a minha brasileira preferida
*
jinos
*

Paula Raposo disse...

Eu não aprecio. Mas quem sou eu??! Beijos, Isabel. Tudo de bom para ti.

Fatyly disse...

Este poema é muito controverso onde se sobrepõe o sentir da morte de um ser humano(jamais ninguém merece morrer ns garras dantescas de uns quantos) sobre um animal, neste caso um cavalo.

Sei que há quem estime mais o seu animal de estimação do que familiares ou até um ser humano que morre na beira da calçada. Não critico quem o faça..mas cada coisa no seu lugar.

Beijocas

papagueno disse...

Será que muitas vezes não somos mais selvagens que a pior das feras?