quarta-feira, agosto 29, 2007

A hora do cansaço



As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Dima Oukhov

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Um poema verdadeiro...lindíssimo!

The Perfect Stranger disse...

um poema dos eleitos, como eu...
Olá wind
por causa do cansaço....descanço
beijo

papagueno disse...

Infelizmente nada dura para sempre, pelo menos as coisas boas.
Beijinhos

Fatyly disse...

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
(...)

Só desse grande senhor!!!!

Beijos