terça-feira, fevereiro 13, 2007

Poética



Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. director.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira

Imagem daqui

5 comentários:

Maria Carvalho disse...

Concordo integralmente com o Manuel Bandeira. Só que ele o sabe expressar dum modo fantástico! Beijos.

MariaTuché disse...

Não conhecia o autor, vou registar!!

Obrigada pelo momento musical :)

Beijossssssssssssss

PintoRibeiro disse...

Bom dia, se for, mais chuva e um bjinho.

poetaeusou . . . disse...

Wind
de tanto de'lirismo.
Olha...
Olhai os Lirios do Campo...
a o
manual bandeira

Fatyly disse...

Não tenho conseguido comentar, mas vou lendo o que plantas por aqui e o resultado está à vista: ADOREI!!!!

Beijocas