terça-feira, fevereiro 06, 2007

Fragmentos de um Diário

Amo
as águas no instante em que não são do rio
Nem pertencem ainda ao mar.....
.....árduas planícies rosto incendiado pesando-me
nos ombros
hirto....tatuado no entardecer de magoada cocaína.....

.....leio baixinho aquele poema Eu de Belaflor
nocturna sombra de corpo embriagado
fogos por descuido acesos no húmido leito dos juncos...
...altíssima margem....inacessível noite de Florbela

e o soneto dizia: Sou aquela que passa e ninguém vê
sou a que chamam triste sem o ser
sou a que chora sem saber porquê

...apesar de tudo conheço bem este rio
e o cuspo diáfano do coral o sono letárgico
dos reduzidos seres marinhos esmagados
na pressa do mar...possuo este resíduo de vida estelar
gravada na pele está a cabeça de medusa loura....dói
nas comissuras penumbrosas das falésias
que me evocam
os ternos lábios das grandes bocas fluviais.....

...sinto o rigor das plantas erectas as vozes esparsas
os corpos de ouro enleados na violência das maresias....
...junto á foz de meu inseguro desaguar...continuo sentado
escrevo a desordem urgente das horas...medito-me
cuidadosamente o tabaco amargo pressente-te na garganta
e no fundo inóspito do corpo desenvolve-se
o desejo de fugir....
.... espero o cortante sal-gema das ilhas.....a ilusão
conseguir prolongar-me na secreta noite dos peixes....
...adormeço enfim
para que estes dias aconteçam mais lentos
nas proximidades inalteráveis deste mar....

Al Berto

7 comentários:

Special K disse...

Hoje também me sinto muito identificado com a poesia do Al Berto.
Um beijo.

Mocho Falante disse...

ahhh já sentia saudades destas poesias que aqui colocas

beijocas

andorinha disse...

Lindo, lindo, lindo!
Beijos.

poetaeusou . . . disse...

junto á foz de meu inseguro desaguar...continuo sentado
escrevo a desordem urgente das horas...medito-me
bj)

Rosa Brava disse...

Já ri e reli Al Berto, mas de cada vez que o leio é como se fosse a 1ª. vez!

Parabéns pela escolha. Fantástica.

Bj ;)

lena disse...

o poeta que leio e e volto a ler sem me cansar

o poeta que me acompanha todos os dias

e deixo-te:


MEU ÚNICO AMIGO

1

só conseguia amar-te se falasse de mim
sem cessar

hoje vivo quase sempre sozinho
paciência
os momentos de infelicidade estão esquecidos

uma pétala de luz percorre as linhas da mão
o rosto é aquele que sonhei
e não o que a noite dos espelhos tenta dar-me

eis o retrato de meu único amigo
a quem tudo revelo
o que me cresceu no coração

Al Berto
O Medo

abraço-te sempre com ternura e sempre com uma grande admiração pela poesia que nos ofereces

beijinhos

lena

Su disse...

amei

jocas maradas