domingo, abril 30, 2006

Variação momentânea sobre tema de m. t. b.



Casa,
oh palavra tão antiga e impensável
como um farol da infância
visto de baixo, da sua base,
e a tocar o céu.

casa,
ideia tão grande e indizível
que convocas
a vida e a morte,

e a sua sucessão ao longo
de incontáveis gerações.

mas também o silêncio mais absoluto

das aldeias negras,
debruçadas
sobre um mar atlântico
ainda encoberto,

na sufocação daquilo que mora
sobre um limite total.

por isso não tenho, nunca tive,
uma casa,

como nunca tive um deus
diante do qual me prostrar

- sou um órfão assumido
de pai e de mãe.

e não me atrevo a encher os pulmões
de ar,

com medo do que poderia advir

se acaso tudo começasse a transbordar.

Vítor Oliveira Jorge
29.4.06

Foto:Marília Campos

4 comentários:

Mocho Falante disse...

nada melhor como sentir o cheiro, a cor, a energia da nossa casa

beijocas

Alien8 disse...

As casas, nós, as casas... como escreveu outro poeta. Ou os arquitectos de que fala Herberto Hélder... ou a luz de um farol na noite, um farol que se ergue e os barcos que se cruzam...
Boa noite, Wind.

Hindy disse...

A nossa casa, o nosso ninho... :)

P.S.- Já me esquecia de agradecer pela força que deste para os concursos de professores. Obrigada.
Beijinhos

De Amor e de Terra disse...

Muito interesante este poema que eu nao conhecia.
Obrigada Wind.
Um beijo da

Maria Mamede