quinta-feira, abril 20, 2006

Mulata



Os teus defeitos são graças
que mais me prendem, querida...
Mistério de duas raças
que se encontraram na vida.

E, no mato, em nostalgia,
num exílio carinhoso,
fizeram essa alegria
do teu olhar misterioso.

E deram forma de sonho,
em seu viver magoado,
a esse estilo risonho
do teu corpo bronzeado...

Que é bem a grácil maneira
em que a volúpia se anima,
- bailado duma fogueira
queimando quem se aproxima!

A tua boca dolente,
cicatriz de algum desgosto
é um vermelho poente
no lindo sol do teu rosto.

E os beijos que pronuncias
são palavras dolorosas...
Teus beijos são tiranias,
são como espinhos de rosas...

Que me embriagam, amantes,
no éter do seu perfume...
Teus beijos são navegantes
sobre as ondas do ciúme.

Os teus defeitos são graças
desse mistério profundo...
Saudade de duas raças
que se abraçaram no mundo!

Tomaz Vieira da Cruz(Angola)

Foto:Nanã Sousa Dias

2 comentários:

blogadict disse...

'Os teus defeitos são graças
desse mistério profundo...
Saudade de duas raças
que se abraçaram no mundo!'... pena que esse abraço não seja o de todas as raças. Como seria bom ver a humanidade unida no esforço para salvar o que ainda há de bom... beijo de boa noite :)

De Amor e de Terra disse...

Olá Wind,
muito belo este poema "Mulata", muito bem retratado o Amor Mulato deste autor; muito bela também a fotografia.

Um beijo e o agradecimento Amiga

Maria Mamede