sábado, abril 01, 2006

Não há palavras



Tocas um corpo, sentes-lhe o repetido tremor
sob os teus dedos, o cálido andamento do sangue.
Observas-Ihe o lânguido amolecimento,
as suas sombras corporais, o seu desvelado esplendor.
Não há palavras. Tocas um corpo; um mundo
enche agora as tuas mãos empurra o seu destino.
Estira-se o tempo nos pulmões
silva como um chicote rente aos lábios.
As horas, o instante, detêm-se,
extrais aí a tua pequena parcela de eternidade.
Antes foram os nomes e as datas.
a história tão clara e lúcida de dois rostos distantes.
Depois aquilo a que chamas amor,
talvez se transforme em promessa arrancada,
muro erguido que pretende encerrar
aquilo que só em liberdade pode ganhar-se.
Não importa, agora nada importa.
Tocas um corpo, nele te fundes,
apalpas a vida, real, comum. Já não estás só.

Juan Luis Panero

Foto:Stanmarek

4 comentários:

Alien8 disse...

Tens aqui excelentes poemas! Ia jurar que tinha comentado o teu, noutro post, mas não está lá o comentário. Deve ter sido esta coisa das letrinhas para verificação que não saíu bem, ou outra azelhice minha.
Mas digo agora que gostei. Um caso.
Bom fim de semana.

Caiê disse...

Sobre o amor sei muito pouco. Mas descobri-lo é possível.:)

Zeca disse...

Como hoje é dia de visitas, desejo-te um bom fim de semana e se possível cheio de amores.
Fica bem.

Maria Carvalho disse...

Esta música é linda. Não, não há palavras. Beijos, Isabel. Bom fim de semana.