segunda-feira, abril 03, 2006

15.



Há um cabo a dobrar dentro do sangue
após o canto os cânticos há cabos que dobrar
é dar o sangue por causas carregadas
de utopias causas que sabemos mortais
de mortes naturais há um cabo a

transpor ao sol poente gasto de alegria
que outrora grassava neste mar vivo e
tão vivido que se chamava vida se
vida é nome a dar a qualquer coisa mais
correspondente do que isto que sentimos

do que isto de saber haver um cabo
ao fim da terra onde a esperança finda
e o tumulto das vagas arremete
contra o último reduto o súbito
crepúsculo que se salva se há um cabo

um promontório donde tudo se avista
onde ninguém nos avista nem o sangue
em cujo leito o tal cabo se pranta e
nunca se dobra por mais que se insista.

Nuno de Figueiredo

Foto:Stanmarek

3 comentários:

Natureza disse...

Olá. Essa foto, a ferida é muito feio e arripiante.
E outro assunto, eu não sei qual é teu preferido dos meus poemas nem sei o teu tipo dos gostos dos poemas.
Beijos e tenha um bom dia.

Alien8 disse...

Olá, Wind,
Gostei dos três poemas. Boa semana!

Parrot disse...

Wind,
Gostei deste poema, ou melhor, é dificil vir aqui sem gostar.

Beijo e :-)