sexta-feira, junho 13, 2008

Bola de dor



E esta angústia que se aloja na garganta,
Bola de picos,
Bola de gelo,
Bola de pêlo,
Bola de neve
Que se desfaz em lágrimas em sentido inverso,
E não desce,
E não engulo,
E não digiro,
E me sai pelos olhos em cascata,
Cataratas os meus olhos
De um degelo de dor.
E esta vontade de cortar a garganta
E descobrir onde se esconde
Esta bola de pêlo,
Bola de gelo,
Bola de dor,
Que me sufoca, me afoga, e me alaga,
E extirpá-la,
Arrancá-la,
Para ter olhos de ver
E garganta de respirar.

Encandescente, in"Bestiário", pág.84, Editora Polvo

Foto:Margarida Delgado

3 comentários:

papagueno disse...

Bonito e doloroso...
Bjks

Fatyly disse...

A Encandescente aplica palavras numa conjugação perfeita. Doloroso, triste e sufocante...mas sempre uma escrita que admiro profundamente.

Se ela ler este comentário só peço: Volta escritora da vida:)

Beijos miúda e um bom sábado

Paula Raposo disse...

Raríssimos são os poemas da Encandescente que não me envolvem logo desde a primeira palavra...