sábado, maio 06, 2006

A Torre de Babel ou a porra do Soriano



Eu canto do Soriano o singular mangalho!
Empresa colossal! Ciclópico trabalho!
Para o cantar inteiro e para o cantar bem
precisava viver como Matusalém.
Dez séculos!

Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem colhões que idéia vaga
das nádegas brutais do Arcebispo de Braga.

Sim, cantemos a porra, o caralho iracundo
que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
Mastro de Leviathan! Iminência revel!
Estando murcho foi a Torre de Babel
Caralho singular! É contemplá-lo
É vê-lo teso!
Atravessaria o quê?
O sete estrelo!!

Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra
É uma porra, arquiporra!
É um caralhão atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o caralho preciso
para foder a Terra, Eva no Paraíso!!

É uma porra infinita, é um caralho insone
que nas roscas outrora estrangulou Laoccoonte.

Oh, caralho imortal! Oh glória destes lusos!
Tu podias suprir todos os parafusos
que espremem com vigor os cachos do Alto Douro!
Onde é que há um abismo, onde há um sorvedouro
que assim possa conter esta porra do diabo??!
O Marquês de Valadas em vão mostra o rabo,
em vão mostra o fundo o pavoroso Oceano!
– Nada, nada contém a porra do Soriano!!

Quando morrer, Senhor, que extraordinária cova,
que bainha, meu Deus, para esta porra nova,
esta porra infeliz, esta porra precita,
judia errante atrás duma crica infinita??

– Uma fenda do globo, um sorvedouro ignoto
que lhe dá de abrir talvez um dia um terramoto
para que deságüe, esta porra medonha,
em grossos borbotões de clerical langolha!!!

A porra do Soriano, é um infinito assunto!
Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto?
Onde é que ela começa?
Onde é que ela termina
essa porra, que estando em Braga, está na China,
porra que corre mais que o próprio pensamento
que porra de pardal e porra de jumento??
Porra!

Mil vezes porra!
Porra de bruto
que é capaz de foder o Cosmo num minuto!!

Guerra Junqueiro

Foto:Dianora Niccolini

7 comentários:

Alien8 disse...

Não há dúvida de que a foto faz boa companhia aos versos do Guerra Junqueiro, que alguém me deu a ler era eu um rapazinho.
Bom fim de semana, Wind.

Belzebu disse...

Cada vez que leio este poema de Junqueiro é como se fosse a primeira vez!
E só me ocorre dizer uma coisa!

PORRA que é excelente!

Saudações!

António disse...

Querida Isabel!
O Junqueiro é um dos meus poetas favoritos.
Panfletário, radical, simples, anti-clerical...e genial!
Não conhecia este poema.
Sabes de que livro foi extraído?

Obrigado pelo teu comentário à minha reflexão, resultado de 57 anos de amores e desamores, mas de sempre apreciar a mulher como meu complemento essencial.

Beijinhos

Menina Marota disse...

Guerra Junqueiro... Tinha 14 anos quando li este Poema pela 1ª. vez... corei de envergonhada que fiquei...e, levei um raspanete do meu Pai, porque não eram leituras de Menina...e, escondeu-me o livro, que continua algures na estante, escondido entre muitos...
Depois disso, já o (re)li...sem corar... ;)

Um abraço e bom fim de semana :)

MC disse...

Guerra Junqueiro é dos meus escritores favoritos, nada a acrescentar, adoro.

MC

Mónica disse...

ganda pila! também mete medo!!!!!!!!

ai o guerra junqueiro dava-lhe pra isto...freixo de espada à cinta!!!!!!

Anónimo disse...

Gosto muito do Guerra Junqueiro, lembro-me sempre do meu avô e da terra onde passei a minha infância, Freixo de espada à Cinta