quarta-feira, maio 03, 2006

Do Novo Ídolo



Em algum lugar há ainda povos e rebanhos, mas não entre nós, meus irmão:
aqui há Estados.
Estado? O que é isso? Pois bem! Agora abri-me vossos ouvidos, pois agora
vos direi minha palavra da morte dos povos.
Estado chama-se o mais frio de todos os monstros frios. Friamente também
ele mente; e essa mentira rasteja de sua boca: "Eu, o Estado, sou o povo".
É mentira! Criadores foram os que criaram os povos e suspenderam uma crença
e um amor sobre eles: assim serviam à vida.
Aniquiladores são aqueles que armam ciladas para muitos e a chamam de Estado:
suspendem uma espada e cem apetites sobre eles.
Onde ainda há povo, ali o povo não entende o Estado e o odeia como olhar
mau e pecado contra costumes e direitos.
Este signo eu vos dou: cada povo fala sua língua de bem e mal: esta o vizinho não entende.
Sua própria língua ele inventou para si em costumes e direitos.
Mas o Estado mente em todas as línguas de bem e mal; e, fale ele o que for,
ele mente – e o que quer que ele tenha, ele roubou.
Falso é tudo nele; com dentes roubados ele morde, esse mordaz. Falsas são
até mesmo suas vísceras.
Confusão de línguas de bem e mal: este signo vos dou como signo do Estado.
Em verdade, é a vontade de morte que esse signo indica! Em verdade, ele acena
aos pregadores da morte!
São demasiado muitos os que nascem: para os supérfluos foi criado o Estado!

Nietzsche(Assim Falou Zaratustra - tradução de Rubens Rodrigues Torres Filhos)

Foto:Gianni Candido

1 comentário:

Alien8 disse...

Um louco fascinante. Digo eu :)
Beijos.