terça-feira, maio 30, 2006

O pensador de Rodin



Apoiando na mão rugosa o queixo fino,
O Pensador reflete que é carne sem defesa:
Carne da cova, nua em face do destino,
Carne que odeia a morte e tremeu de beleza.

E tremeu de amor; toda a primavera ardente,
E hoje, no outono, afoga-se em verdade e tristeza.
O "havemos de morrer" passa-lhe pela mente
Quando no bronze cai a noturna escureza.

E na angústia seus músculos se fendem sofredores.
Sua carne sulcada enche-se de terrores,
Fende-se, como a folha de outono, ao Senhor forte

Que o reclama nos bronzes. Não há árvores torcida
Pelo sol na planície, nem leão de anca ferida,
Crispados como este homem que medita na morte.

Gabriela Mistral(Tradução de Manuel Bandeira)

Imagem:Escultura de Rodin

2 comentários:

Alien8 disse...

Esta escultura não existe! É demais!
Um beijo, Wind.

soudocontra disse...

Hoje faz muitos anos que vim a este mundo e aproveitei a imagem e o poema para inserir num email que enviei à minha família e amigos.
Bem hajam pelo vosso blog - as imagens e personagens nele contidas dizem-me muito e bem dos autores.
manuel