domingo, abril 01, 2007
Que música escutas tão atentamente
Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.
Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.
Eugénio de Andrade
Foto:Yuri B
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6 comentários:
Sem palavras...já é um lugar comum eu não ter (pois) palavras quando venho até aqui. Perante o Eugénio de Andrade, menos palavras terei...
ando sem tempo.......
ando em falta com este blog que gosto de ler...........
hoje............perdi.me por aqui
gostei de me perder
jocas maradas
Sabes, por vezes estamos tão absorvidos com a nossa própria música; que tantas coisas nos escapam, ao nosso redor! Quandas vezes não percebemos quem nos olha. O inverso também acontece, e como! :)
Gosto de Eugénio de Andrade. Belo, mas triste poema!
Bjs!
P.S.: Adorei a foto! ;)
Adoro Eugénio de Andrade. Porque será que sofrem tanto, os poetas ?
Sobre a foto, se o Eugénio andasse como ela, toda a gente dava por ele :-))))
Sempre uma delícia ler o Eugénio.
/
ó cheia de doçura
/
b)
/
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