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Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais por vida a sepultura.
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que as eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa-os quatro se vão
Para onde vai toda idade
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa
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