domingo, novembro 28, 2004

Na sua chama mortal...




Na sua chama mortal te envolve a luz.
Absorta, pálida dolente, assim postada
contra as velhas hélices do crepúsculo
que em torno de ti dá voltas.

Muda, minha amiga,
sozinha na solidão desta hora de mortes
e cheia das vidas do fogo,
herdeira pura do dia destruído.

Do sol desabam uvas no teu vestido escuro.
Da noite as grandes raízes
crescem de súbito na tua alma,
e ao exterior regressam as coisas em ti ocultas,
de modo que um povo pálido e azul
de ti recém-nascido se alimenta.
.....

Pablo Neruda

1 comentário:

lique disse...

A beleza incomparável das palavras de eruda e das tuas escolhas! Beijinhos, wind.