quinta-feira, março 09, 2006

*O Poder libertador do palavrão*



"Quando se usam palavrões sem ser com o sentido concreto que têm, é como se estivéssemos a desinfectá-los, a torná-los decentes, a recuperá-los para o convívio familiar. Quando um palavrão é usado literalmente, é repugnante.

Quando uma esferográfica não escreve num exame de Matemática "ah a grande puta... não escreve!", desagrava-se a mulher que se prostitui.

Em Portugal é muito raro usarem-se os palavrões literalmente. É saudável.

Entre amigos, a exortação "Não sejas conas", significa que o parceiro pode não jogar um caralho de fifa2006. Nada tem a ver com o calão utilizado para "vulva", palavra horrenda, que se evita a todo o custo nas conversas diárias.

Pessoalmente, gosto da expressão "É fodido..." dito com satisfação até parece que liberta a alma!

Do mesmo modo, quando dizemos "Foda-se!", é raro que a entidade que nos provocou a imprecação seja passível de ser sexualmente assaltada. Por ex.: quando o Joaquim "descia" os 8 andares do prédio para ir á garagem buscar a moto e verificava que se tinha esquecido de trazer as chaves... "Foda-se"!! não existe nada no vocabulário que dê tanta paz ao espirito como um tranquilo "Foda-se...!!".

O léxico tem destas coisas, é erudito mas não liberta.

Enquanto um pai, ao não conseguir montar um avião da Lego para o filho, pode suspirar após três quartos de hora, "ai o caralho...", sem que daí venha grande mal à família.

Quando o mesmo pai, recém-chegado do Kit-Market ou do Aki, perde uma peça para a armação do estendal de roupa e se põe, de rabo para o ar, a perguntar "onde é que se meteu a puta da porca...?", está a dignificar tanto as putas como as porcas, como as que acumulam as duas qualidades.

Para dizer que uma localidade fica fora de mão, não se pode dizer que "fica na vagina da mãe" ou "no ânus de Judas".

Quem é que se atreve a propor expressões latinas como "fellatio" e "cunnilingus"? .

Os palavrões são palavras multifacetadas, muito mais prestáveis e jeitosas do que parecem. É preciso é imaginação na entoação que se lhes dá. Eu faço o que posso."

Miguel Esteves Cardoso (recebido por mail)

Coloquei aqui este texto do MEC, para também poder escrever: foda-se para o dia de hoje, politicamente!

Foto:Ira Bordo

Sem comentários: