segunda-feira, março 20, 2006

O nevoeiro



O nevoeiro suspende-lhe a vida
como dois belos seios diante dos olhos,
humidade tão contrária à chuva,
aos dias em que se procura abrigo
ainda que seja numa mentira ou no passado.

Este branco que o impede de ver,
como se não fosse possível
morrer ou continuar vivo,
mais forte do que a sua moral,
há-de atrasá-lo para o seu destino,

com a ideia de ser castigo
por ter dormido fora de casa.
Porque a hipocrisia é a única coisa
que persiste no nevoeiro.
Não há sequer as horas de prazer,

de entretenimento pelo menos foi,
e realmente vividas a noite passada
com a rapariga que gemia
como se mentisse ou se a verdade
não fosse senão um episódico momento.

No nevoeiro há apenas que ter cuidado,
evitar que o carro vá à berma,
manter todas as luzes ligadas
e seguir devagar, esperando
que os outros façam o mesmo.

Paulo José Miranda

Foto:João Coutinho

3 comentários:

Luís Monteiro da Cunha disse...

Gostei do poema declamado pela M. Mamede na sexta passada no Flor de Infesta e postado no Movimentum, onde dizias estar frente ao computador e apenas te sentias envolvida em musica... lindo.
Fiquei convicto do teu amor pela musica e pelos acordes que te preenchem e... acabas por fazer poesia... negando o facto...lol

Obrigada pela tua visita e pelas tuas palavras genuinas, é sempre um prazer receber-te

Boa semana para ti...

Bjinho

Nilson Barcelli disse...

Não conheço o Paulo José Miranda, mas gostei do poema.
E da fotografia que colocaste, muito a propósito com o tema.
Beijinhos e boa semana.

Mocho Falante disse...

cá estou eu de volta à blogoesfera e matar saudades dos poemas aqui publicados...

beijocas.

Ps: Esta música é um estrondo! Bela escolha