terça-feira, março 21, 2006

Federico Garcia Lorca



Água com farolitos
a água
Federico.

Lua nos olivais
a lua
Federico.

Laranjas de ouro
laranjas
Federico.

Gitanos que cantam
gitanos
Federico.

Tua alma traída
a tua alma
Federico.

II

Federico, aonde vais?
– a Granada .

E a tua voz de jasmins ?
– amordaçada.
E tua fronte cigana
– assassinada.

III

Ante a lua comovida,
cobre-se a cela de nardos,
sexta-feira da Paixão,
véspera do teu Calvário.
Um tremor de inquietos pássaros
paira em teus olhos cerrados
e um lençol de pesadelos
sobre teu corpo deitado.
O pensamento repousa
num romanceiro gitano
mas nas ruas de Granada
percorre um frêmito estranho.
um sino sem esperança
anuncia a madrugada.
Uma hora
(angústias e solidão)
duas horas
(as estrelas se escondem)
três horas
(cravos martirizados)
quatro horas
( a morte afia seus punhais)
cinco horas
(chora o regato e o rouxinol).
Levam-te por uma estrada
de espinhos e crocodilos
como uma pomba aprisionada,
às cinco da madrugada.
As Bestas galopando
às cinco da madrugada
em seu tropel de espantos
às cinco da madrugada.
E quando por ti perpassa
às cinco da madrugada
um calafrio das lâminas,
descerram-se todos os audários
e os lírios se enrubescem
às cinco da madrugada.
Às cinco da madrugada!
Eram as cinco em todos os relógios!
Eram as cinco nos campos de Granada!

IV

Federico assassinado
na branca areia de Espanha
e uma rosa andaluza
sobre lençóis de holanda.
Seu sangue espalha no ar
um leve olor de lavanda,
seus ossos se pulverizam
em estrelinhas de nácar
e um pranto entre os ciprestes,
poesia inacabada,
soluça os versos mozárabes
de um romance fantasma.
la guada civil caminera
a Federico levava:
ela, fome de pantera,
ele, orgulho de prata,
ela, veias insensíveis
e olhos frios, sem alma,
apaga a luz das estrelas
no sangue da madrugada.
Mil pandeirinhos sossegam
Os seus murmúrios de água.
Um anjo deita a cabeça
sobre uma alva almofada
e a Morte com dedos finos
toca a sua velha guitarra.
Por Málaga ou Córdoba,
ou por Sevilha ou Granada
vagueia como sonâmbula
uma voz assassinada.

Cláudio Murilo Leal

Imagem daqui

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