quarta-feira, dezembro 28, 2005

Vénus Anadiômene



Como de um verde túmulo em latão o vulto
De uma mulher, cabelos brunos empastados,
De uma velha banheira emerge, lento e estulto,
Com déficits bastante mal dissimulados;

Do colo graxo e gris saltam as omoplatas
Amplas, o dorso curto que entra e sai no ar;
Sob a pele a gordura cai em folhas chatas,
E o redondo dos rins como a querer voar...

O dorso é avermelhado e em tudo há um sabor
Estranhamente horrível; notam-se, a rigor,
Particularidades que demandam lupa...

Nos rins dois nomes só gravados: CLARA VENUS;
– E todo o corpo move e estende a ampla garupa
Bela horrorosamente, uma úlcera no ânus.

Arthur Rimbaud-27 de julho de 1870 (trad. Augusto de Campos)

Foto:Zet_ka aa (zet)

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