quarta-feira, agosto 04, 2010

A verdade dividida



A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Anónimo disse...

Ideias aparentemente baralhadas.
Só aparentemente porque a verdade está lá.

:)

Paula Raposo disse...

Não conhecia este poema. É fantástico.
Beijos.

Fatyly disse...

Não conhecia e de facto a parte final é bem surpreendente.

Beijocas