quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Caminharemos de olhos deslumbrados



Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.

Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.

No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.

Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.

Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.

Ary dos Santos

Imagem retirada do Google

4 comentários:

Alien8 disse...

Uma ilustração muito a propósito para o poema do Ary!

Beijos, Wind.

Paula Raposo disse...

Grande Ary!
Beijos.

Nilson Barcelli disse...

Soberbo poema de um mestre na poesia.
Não conhecia. Obrigado pela partilha, querida amiga.
Bom resto de semana.
Um beijo.

Fatyly disse...

é Incrível a força que Ary dava aos seus poemas. Foi bom reler e a imagem não podia ter sido melhor!

Biejocas