quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Pastoral



Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.

Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há de certeza, duas folhas iguais.

Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
bainha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou.

Miguel Torga

Imagem retirada do Google

4 comentários:

Politikus disse...

Inspirador. Adorei...

jorge vicente disse...

é dessas que o mundo precisa.

grande abraço
jorge vicente

Paula Raposo disse...

Uma folha linda!!
Beijos.

Fatyly disse...

e deviamos todos absorver e aprender. Lindissimo poema!

Beijos