segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Paisagem



Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento,
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a'sua exaltação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre

Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Fatyly disse...

E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
..........
Uma delícia de poema e a foto...ai como o mar me diz tanto!

Beijocas e um bom dia

Paula Raposo disse...

Muito belo poema!! Beijos.