quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Os justos



Um homem que cultiva o seu jardim, como queria Voltaire.
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.

Jorge Luis Borges

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Politikus disse...

Não conhecia este poema... Interessante.

Fatyly disse...

Não conhecia e a mensagem é de facto real.

Beijos e um bom dia

Nilson Barcelli disse...

Será que o Fernando Nobre ainda não conseguiu salvar o mundo?
Mas também não vejo como um Presidente da República português o possa fazer...

Mais a sério... não conhecia, mas gostei imenso deste poema.
Obrigado pela partilha.
Querida amiga, bom resto de semana.
Um beijo.