segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Libertação



Fui à praia, e vi nos limos
a nossa vida enredada:
ó meu amor, se fugimos,
ninguém saberá de nada.
Na esquina de cada rua,
uma sombra nos espreita,
e nos olhares se insinua,
de repente uma suspeita.
Fui ao campo, e vi os ramos
decepados e torcidos:
ó meu amor, se ficamos,
pobres dos nossos sentidos.
Hão-de transformar o mar
deste amor numa lagoa:
e de lodo hão-de a cercar,
porque o mundo não perdoa.
Em tudo vejo fronteiras,
fronteiras ao nosso amor.
Longe daquí, onde queiras,
a vida será maior.
Nem as esp'ranças do céu
me conseguem demover
Este amor é teu e meu:
só na terra o queremos ter.

David Mourão-Ferreira

Foto:Igor L.

2 comentários:

Amigo de Alex disse...

Lindo poema. E que melhor espaço de libertação que o mar, o campo, o céu...
Boa semana.
bj

lena disse...

lindo!

a escolha perfeita e uma imagem que abraça o poema


beijinhos meus

lena