segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Carta de despedida de Che dirigida a Fidel e ao povo Cubano



" Fidel, neste momento lembro-me de muitas coisas de quando o conheci no México, na casa de María Antonia, quando me propôs juntar-me a você; de todas as tensões causadas pelos preparativos. Um dia vieram me perguntar quem devia ser notificado em caso de morte, e a possibilidade real desse fato causou um impacto. Mais tarde, soubemos que era verdade, que numa revolução se vence ou se morre (se ela for autêntica).
Atualmente, tudo tem um tom menos dramático, porque somos mais maduros. Mas o fato se repete. Sinto que cumpri com a parte do meu dever que me prendia à revolução cubana em seu território e me despeço de você, dos camaradas, do seu povo, que agora é meu.
Renuncio formalmente a meus cargos no Partido, a meu posto de ministro, à minha patente de comandante e à minha cidadania cubana. Legalmente, nada me vincula a Cuba (...).
Recordando minha vida pregressa, acho que trabalhei com suficiente integridade e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário. Minha única deficiência grave foi não ter tido mais confiança em você desde os primeiros momentos na Sierra Maestra e não ter percebido com a devida rapidez suas qualidades de líder e de revolucionário.
Vivi dias magníficos e, ao seu lado, senti o orgulho de pertencer ao nosso povo nas idas brilhantes, embora tristes, da crise caribenha (dos mísseis). Raramente um estadista foi mais brilhante do que você naqueles dias (...).
Outras nações do mundo requerem meus modestos esforços. eu posso fazer aquilo que lhe é vedado devido à sua responsabilidade à frente de Cuba, e chegou a hora de nos separarmos.
Quero que saiba que o faço com uma mescla de alegria e pena. Deixo aqui minhas mais puras esperanças de construtor e os meus entes mais queridos. E deixo um povo que me recebeu como um filho. Isso fere uma parte do meu espírito. Carrego para novas frentes de batalhas a fé que você me ensinou, o espírito revolucionário do meu povo, a sensação de estar cumprindo com o mais sagrado dos deveres: lutar contra o imperialismo onde quer que seja. Isso me consola e mais do que cura as feridas mais profundas.
Declaro mais uma vez que eximo Cuba de qualquer responsabilidade, a não ser aquela que provém do seu exemplo. Se minha hora final me encontrar debaixo de outros céus, meu último pensamento será para o povo e especialmente para você (...). Não lamento em não deixar nada material para minha mulher e meus filhos. Estou feliz que seja assim. Nada peço para eles, pois o Estado os proverá com o suficiente para viver e para ter instrução (...).
Hasta la victória siempre! Patria o muerte! Abraço-o com todo meu fervor revolucionário."

Che

Foto daqui

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