domingo, abril 19, 2009

Para ti



Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto

Foto:Eli

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Sempre magnífico Mia Couto! Este poema é lindo demais...beijos e bom domingo, Isabel.

Fatyly disse...

de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
..............
lindissimo!

Beijocas e um BOM DOMINGO

Trio Colher de Pau disse...

Maravilhoso
...e com um grande significado,não
tenho palavras para descrever.....
simplesmente lindo!!!Adorei parabéns pela escolha.

Continuação de um bom Domingo.

M.L*

Anónimo disse...

Olá!
Mia Couto, um dos expoentes máximos da literatura africana, já estudei muito as suas obras!
O poema é parte integrante de um conjunto de temas poéticos em que o Mia Couto exterioriza a sua sensibilidade.

Bjs