terça-feira, janeiro 04, 2011

A festa do silêncio



Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

António Ramos Rosa

Imagem retirada do Google

4 comentários:

Anónimo disse...

Magnífico texto.

Bjs

Fatyly disse...

Lindissimo e tão sonante. Gostei muito!

Beijocas

Paula Raposo disse...

Muito belo!!
Beijos.

Mar Arável disse...

De facto.

Nada é inacessível

aqui tão perto

do infinito