sexta-feira, agosto 01, 2008

...Que culpa terão as ondas



...Que culpa terão as ondas
Dos movimentos que façam?
São os ventos que as impelem
E sulcos profundos traçam.
Aos ventos quem lhes ordena
Que rasguem rugas no mar?
São as nuvens inquietas
Que os não deixam sossegar.
E as nuvens, almas de névoa,
Porque não param, coitadas?
É que as asas das gaivotas
As trazem desafiadas.
Mas as asas das gaivotas
O cansaço há-de detê-las!
Juraram buscar descanso
Nas pupilas das estrelas.
E como as estrelas estão altas
E não tombam nem se alcançam,
As asas das pobrezinhas
Baldamente se cansam,
Baldamente palpitam!
As nuvens, por fatalismo,
Logo com elas se agitam;
Os impulsos que elas dão
Arrastam as ventanias;
As vagas arfam nos mares
Em macabras fantasias

Assim as almas inquietas
Prisioneiras de ansiedades,
Mal que se erguem da terra,
Naufragam nas tempestades!

Reinaldo Ferreira

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Fatyly disse...

Este poema é lindissimo e tão melodioso.

Os impulsos que elas dão
Arrastam as ventanias;
As vagas arfam nos mares
Em macabras fantasias


Beijocas miúda e foi bom vir até aqui:)

peciscas disse...

Excelentes imagens que um dos poetas de que gosto particularmente, aqui criou.
A natureza física e o interior humano são sempre comparáveis.

papagueno disse...

Um poema lindíssimo.
Beijos