quinta-feira, agosto 28, 2008

Os domingos de Lisboa



Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa aS. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.

As palavras cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.

E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...

Alexandre O'Neill

Foto retirada do Google

6 comentários:

papagueno disse...

O O'Neill no seu melhor.
Bjks

Paula Raposo disse...

A mordacidade que eu gosto no grande Alexandre O'Neill! Uma delícia. Beijos.

Fatyly disse...

Cutilante como sempre!

Beijocas e um resto de dia em belezura:)

peciscas disse...

O O´Neill de sempre a contar aquilo que devem ser os enfastiantes domingos (em Lisboa ou outro qualquer lugar).

Alien8 disse...

Wind,

Ah, este terrível, sarcástico e certeiro O'Neill! E o teu "prédio em ruína" está uma maravilha!

Beijinhos.

António disse...

Sempre igual a si mesmo, o O'Neill...

Beijos, Isabel