segunda-feira, agosto 04, 2008

A invenção da poesia brasileira



Eu escutava o homem maravilhoso,
O revelador tropical das atitudes novas,
O mestre das transformações em caminho:

"É preciso criar a poesia deste país de sol!
Pobre da tua poesia e da dos teus amigos,
Pobre dessa poesia nostálgica,
Dessa poesia de fracos diante da vida forte.
A vida é força.
A vida é uma afirmação de heroísmos quotidianos,
De entusiasmos isolados donde nascem mundos.
Lá vai passando uma mulher... Chove na velha
praça...
Pobre dessa poesia de doentes atrás de janelas!
Eu quero o sol na tua poesia e na dos teus amigos!
O Brasil é cheio de sol! O Brasil é cheio de força!
É preciso criar a poesia do Brasil!"

Eu escutava, de olhos irônicos e mansos,
O mestre ardente das transformações próximas.

Por acaso, começou a chover docemente
Na tarde monótona que se ia embora.
Pela vidraça da minha saleta morta
Ficamos a olhar a praça debaixo da chuva lenta.
Ficamos em silêncio um tempo indefinido...
E lá embaixo passou uma mulher sob a chuva.

Ribeiro Couto

Foto:Dimitar Variysky

4 comentários:

Paula Raposo disse...

Tão doce poema!!

Fatyly disse...

Uma ternura e aplaudo de pé.
Já agora:

"Pobre dessa poesia de doentes atrás de janelas!
Eu quero o sol na tua poesia e na dos teus amigos!
PORTUGAL é cheio de sol!
PORTUGAL é cheio de força!
É preciso criar a poesia de PORTUGAL!" :) :) :)

Adorei!

Beijos e um dia feliz!

peciscas disse...

Uma lição sobre o que deve ser a poesia e que é ela própria, um belo poema.

Alien8 disse...

Wind,

Belo, como os outros aí em baixo.
Esta imagem e a do Desafio estão excelentes.
Um beijo.