terça-feira, julho 29, 2008

Num monumento à aspirina



Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia.

*

Convergem: a aparência e os efeitos
da lente do comprimido de aspirina:
o acabamento esmerado desse cristal,
polido a esmeril e repolido a lima,
prefigura o clima onde ele faz viver
e o cartesiano de tudo nesse clima.
De outro lado, porque lente interna,
de uso interno, por detrás da retina,
não serve exclusivamente para o olho
a lente, ou o comprimido de aspirina:
ela reenfoca, para o corpo inteiro,
o borroso de ao redor, e o reafina.

João Cabral de Melo Neto

Imagem retirada do google

2 comentários:

Paula Raposo disse...

Interessante este aspirina!! Eu prefiro o benuron...

Fatyly disse...

Há poemas tão rabuscados que me confundem imenso.
A aspirina efeito na aparência humana...mas tomadas em carradas astronómicas...e já agora poderia ter feito um hino às outras ou à que actualmente tem batido os recordes de venda: O tal Xanax (não sei se é assim que se escreve)

Foi a minha leitura e sinceramente não gostei, como não gosto de aspirina lolll

Cum catano de complication:) e como não posso pedir ao SR.Cabral, se puderes dá aí uma dica para ver se eu entendo:)

Um beijo garota e um bom dia