
— Saberia eu indagar agora sobre tuas mãos?
Era de noite:
gotejava o inverno
e a repressão dos desejos
percorria nossas mãos como se nunca soubessem,
elas, as mãos,
cada qual de si
e da outra.
—Pois o que ensiná-las a mais, se as ensinamos pouco?
Porque agora,
outra vez de noite,
qwerty — é apenas a prosaica banda deste teclado —
máquina,
só máquina, só noite,
qwerty — bato com os dez,
melhor com os da esquerda,
embora destro, bato —
letra a letra — qwerty;
mas saberia agora mesmo,
dígito a dígito,
sinal por sinal, todos
mesmo sem olhar, que não nos podíamos olhar,
os sinais, tactilmente tácteis
(assim mesmo, à antiga,
tácteis) e a penugem
e a voragem
[...]
como se fosse — e era —
a tua direita
contra a minha esquerda:
eu saberia
do amor que te falhei.
Noite!
Soares Feitosaa
Imagem retirada do Google
3 comentários:
Boa reflexão on line...quando entrei para o banco em 1975 era azert! Os tempos mudam. A imagem está espantosa! Eh eh eh beijinhos
A poesia a acompanhar a evolução dos tempos.
Ainda me lembro do azert, penso que nas máquinas de escrever.
Beijos
Não conhecia e muito original. Olhando para trás...vejo uma longa estrada de evolução:)
Beijos miúda
Enviar um comentário