sexta-feira, julho 18, 2008

Como Queiras, Amor ...



Como queiras, Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranqüilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba
e nada, não, ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria
tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de mal contente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda, me deseja,
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras, Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
Tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárnio, ou, pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.

Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti, porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.

Como tu queiras, Amor, como tu queiras.

Jorge de Sena

Foto:Piotr Kowalik

5 comentários:

peciscas disse...

Uma bela música e um excelente poema. Apetece ficar por aqui.

Fatyly disse...

Uma entrega e resignação
que me faz muita confusão
quando de costas voltadas
ambos estão!

No entanto...um magnífico poema!

BOM DIA:)****

Paula Raposo disse...

Sublime Jorge de Sena! Sempre.

lena disse...

Jorge Sena brota a poesia

faz 30 anos que nos deixou, nas está bem vivo na sua sublime poesia

adorei e aqui sei que vivo dentro da poesia


beijinhos para ti


lena

papagueno disse...

Belíssimo poema de Jorge de Sena acompanhado por uma belíssima imagem.
Beijos