
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Alberto Caeiro
Foto:Rakesh Syal
8 comentários:
Bela escolha... Caeiro sempre Caeiro.
Kiss e Boa Semana
"Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou"...
......................
para muitos...bem actual.
Beijocas e um dia com tudo de bom:)
Na minha ignorância, não gosto e não concordo. Aliás, como já tenho dito, Fernando Pessoa ou qualquer dos seus heterónimos, raramente me diz alguma coisa. Beijinhos, Isabel.
e eu delicio-me sempre com o mestre
fazem-me sempre pensar
8quando é que será que vejo aqui o saramago? :) )
Um beijinho e um sorriso
E agora, Wind? :)))
Desculparás a minha falta de tempo para comentar tudo?
Excelente, a imagem que acompanha o poema do Drummond!
Beijinhos.
Mais uma introspecção profunda e inquieta do Pessoa/Caeiro
Uma visita para matar saudades e ler as tuas boas escolhas.
Beijos
"Quem tem alma não tem calma"
Eu também me pergunto, quantas almas terei?
Bjks
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