segunda-feira, maio 05, 2008

Nas ervas



Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar

os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta

aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.

porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.

abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.

Eugénio de Andrade

Foto:Paul Bolk

6 comentários:

Lola disse...

Wind,
Forte.
Bom dia e boa semana.

peciscas disse...

Mais um poema com a marca do mestre Eugénio.

Special K disse...

Lindo e bem forte.
bjks

alien aboard disse...

mt sensual :)

Paula Raposo disse...

Sublime poema do sublime Eugénio de Andrade. Mais palavras para quê?!

António disse...

O belo erotismo da poesia do Eugénio!