segunda-feira, abril 14, 2008

Mãos dadas



Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

Foto:Rakesh Syal

3 comentários:

Alien8 disse...

Wind,

Luar na Lubre, aqui também? :))

E Drummond. Excelente. Estou a ver se volto aos blogs, devagarinho.

Um beijo.

andorinha disse...

Excelente o poema!
O presente é o único que vale a pena viver.
Beijos.

Paula Raposo disse...

Quanta verdade!!