sexta-feira, abril 04, 2008
Monólogo da noite
Esta noite estou triste e não sei a razão.
Vou, para espairecer minha melancolia,
Ouvir o mar, que o mar é uma consolação.
Paro junto do cais olhando a água sombria.
Intermitente, sob o véu da cerração,
Vejo uma luz vermelha a acenar-me... "Confia!"
Obrigado, farol que és como um coração...
A água negra, noturna, a bater contra o cais,
Ilude a minha dor fútil de vagabundo.
E o farol a acenar de longe... "Espera mais!"
Recordo... "Antônio, que o paquete fosse ao fundo!"
Depois, fico a pensar nos que foram leais,
Nos que tiveram a coragem de ir do mundo
E numa noite assim se atiraram do cais.
Água eterna... água terrível... água imortal...
Apavora-me a sua aparência sombria.
Se eu pudesse acabar de uma vez o meu mal!
Mas tenho medo. "Não... A água está muito fria.
Além de fria é funda e tem gosto de sal."
E surpreendo-me, a chorar de covardia,
Dizendo ao vento esse monólogo banal.
Ribeiro Couto
Foto:Josephine Chervinska
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Mais um belo poema de um poeta que desconhecia.
Bjks
Não conhecia e relata bem a dualidade de uma linha ténue que separa o racional do irracional, o se... e ainda bem que na maioria das vezes é acordado pelo sentir do "choro de covardia" que o desperta que afinal o melhor é afastar-se do cais.
Um beijo madrugador:)
Imagens reais das dúvidas que nos assaltam. Gostei, não conhecia o autor. Beijos.
belissimo
jocas maradas
Enviar um comentário