segunda-feira, abril 14, 2008

Clamor



Tudo bem ao chamamento
Noite após noite o que dissemos e
O que nunca diremos - a viagem
Com uma giesta de algodão presa nos cabelos e
A sensação fresca de um sulco de aves na pele

Tudo vem ao chamamento- os lobos
Os anões as fadas as putas as bichas e
A redenção dos maus momentos - enquanto te barbeias

Vês no espelho o homem
Cuja solidão atravessou quase cinco décadas e
Está agora ali a olhar-te - queixando-se da tosse
Da dor de dentes e do golpe que a lâmina fez
Num deslize perto da asa do nariz

Não sei quem é - sei porém que vai afogar-se
Naquela superfície clara quando dela se afastar e
Abrir a porta para sair de casa murmurando: tudo
Vem ao chamamento
Por dentro do clamor da noite.

Al Berto

Foto:Ivan Isaev

3 comentários:

Paula Raposo disse...

De difícil interpretação. Um Poeta que não é fácil para mim.

papagueno disse...

O Al Berto é outro dos poetas que me preenchem. Este por acaso não conheia.
Beijos

António disse...

Querida Isabel!
Um poema muito bom do Al Berto.

Beijinhos