quarta-feira, junho 19, 2013

O poema



O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen

Imagem retirada do Google

4 comentários:

JP disse...

Um belo poema, entre muitos, da Sophia.

Um poema sobre um poema que nunca se confundirá....terá sempre uma praia onde quebrar as suas ondas.

Beijinho

Anónimo disse...

Sophia...
Nada a dizer.
Wonderful.

Bj

Fatyly disse...

Maravilha e dá que pensar!

Beijocas

Nilson Barcelli disse...

Não me canso de ler a poesia desta poeta.
Beijo, amiga Isabel.