domingo, fevereiro 22, 2009

Sociedade



O homem disse para o amigo:
– Breve irei a tua casa
e levarei minha mulher.

O amigo enfeitou a casa
e quando o homem chegou com a mulher,
soltou uma dúzia de foguetes.

O homem comeu e bebeu.
A mulher bebeu e cantou.
Os dois dançaram.
O amigo estava muito satisfeito.

Quando foi hora de sair,
o amigo disse para o homem:
– Breve irei a tua casa.
E apertou a mão dos dois.

No caminho o homem resmunga:
– Ora essa, era o que faltava.
E a mulher ajunta: – Que idiota.

– A casa é um ninho de pulgas.
– Reparaste o bife queimado?
O piano ruim e a comida pouca.

E todas as quintas-feiras
eles voltam à casa do amigo
que ainda não pôde retribuir a visita.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Fatyly disse...

Uma realidade de tantos amigos, entre aspas, que vivem de fachadas. Vão visitar, comem e bebem e nas costas criticam e dizem mal.
Quando vou a casa de alguém, o que é muito raro, acreditas que não reparo em nada? Por vezes até me dizem lembras-te do quadro, disto ou daquilo que tenho no local X? Fico embaraçada e digo a verdade: não:)))))

Daí eu dizer tantas vezes...nas costas dos outros eu leio as minhas.

Gostei imenso.

Beijocas e um bom domingo

Paula Raposo disse...

Um retrato fantástico da hipocrisia. Beijos.