terça-feira, dezembro 09, 2008

Largo do Espirito Santo, 2, 2º



Nem mais, nem menos: tudo tal e qual
o sonho desmedido que mantinhas.
Só não sonharas estas andorinhas
que temos no beiral.

E moramos num largo... E o nome lindo
que o nosso largo tem!
Com isto não contáramos também.
(Éramos dois sonhando e exigindo).

Da nossa casa o Alentejo é verde.
É atirar os olhos: São searas,
são olivais, são hortas ... E pensaras
que haviam nossos de ter sede!

E o pão da nossa mesa! E o pucarinho
que nos dá de beber!... E os mil desenhos
da nossa loiça: flores, peixes castanhos,
dois pássaros cantando sobre um ninho...

E o nosso quarto? Agora podes dar-me
teu corpo sem receio ou amargura.
Olha como a Senhora da moldura
sorri à nossa alma e à nossa carne.

Em tudo, ó Companheira,
a nossa casa é bem a nossa casa.
Até nas flores. Até no azinho em brasa
que geme na lareira.

Deus quis. E nós ao sonho erguemos muros,
rasguei janelas eu e tu bordaste
as cortinas. Depois, ó flor na haste,
foi colher-te e ficamos ambos puros.

Puros, Amor — e à espera.
E serenos. Também a nossa casa.
(Há de bater-lhe à porta com a asa
um anjo de sangue e carne verdadeira).

Sebastião da Gama

Foto retirada do Google

5 comentários:

Alien8 disse...

Wind,

Há muito que o não lia.

Obrigado por me teres feito lê-lo de novo.

Um beijo

Paula Raposo disse...

Muitíssimo belo!! Beijos.

Fatyly disse...

Foi tão bom reler este poema fresquinho, saboroso, ternurento e cheio de tudo.

Obrigado:)

Beijocas e um resto de bom dia

peciscas disse...

A grande diferença entre um texto lamechas e decadente como muitos que se ouvem em fadunchos a louvar a "casa portuguesa", e este, que também retrata uma realidade desse tipo, é o talento de um verdadeiro poeta.

Su disse...

adoreiiiiiiiiiii

jocas maradas...sempre.sempre