8.
O que menos importa é o fato surrado
afinal cada qual tem o seu próprio fado
Comer uma só vez por dia não tem importância
é até um bom preceito de elegância
Recear a prisão a pancada as torturas
ora quem os manda meter-se em aventuras
Não chegar o dinheiro para pagar o aluguer
nem para ir ao cinema nem para ter mulher
Disparates Doutra forma o poder cai na rua
e lembrem-se senhores a revolução continua
9.
Mas há a noite. O estar sozinho
e no entanto acompanhado – servo de um deus estranho
cumprindo o ritual jamais completo.
Mas há o sono. A lúcida surpresa
de um mundo imaterial e necessário,
com praias onde o corpo se desprende.
Mas há o medo. Há sobretudo o medo.
Fel, rancor, desconhecido apelo,
suor nocturno, rápido suicídio.
Balada para a trégua possível
Foto: António Melo
1.
Esta é a trégua possível, merecida
gerada no teu ventre de mulher.
Beijo, adiado, a tua face, vida!
E deixo, livre, o coração bater.
8.
Em tuas mãos obreiras nascem flores.
Em teu sexo germinam alvoradas.
manhãs de outono sem clarões de espadas
risos, perfumes, cores.
in “A invenção do amor e outros poemas”
Selecção de poemas: Wind e Lique
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