sexta-feira, maio 24, 2013

Soneto XLIII



Um sinal teu busco em todas as outras,
no brusco, ondulante rio das mulheres,
tranças, olhos apenas submergidos,
pés claros que resvalam navegando na espuma.
De repente me parece que diviso tuas unhas
oblongas, fugitivas, sobrinhas de uma cerejeira,
e outra vez é teu pelo que passa e me parece
ver arder na água teu retrato de fogueira.
Olhei, mas nenhuma levava teu latejo,
tua luz, a greda escura que trouxeste do bosque,
nenhuma teve tuas mínimas orelhas.
Tu és total e breve, de todas és uma,
e assim contigo vou percorrendo e amando
um amplo Mississipi de estuário feminino.


Pablo Neruda

Imagem retirada do Google

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom, Isabel.
É Neruda. Está tudo dito.
Bj

Nilson Barcelli disse...

Grande poema de um grande escritor.
E o soneto é fechado com chave de ouro, como deve ser...
Isabel, tem um bom fim-de-semana.
Beijos.