"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer." Einstein
Não te quero senão porque te quero, e de querer-te a não te querer chego, e de esperar-te quando não te espero, passa o meu coração do frio ao fogo. Quero-te só porque a ti te quero, Odeio-te sem fim e odiando te rogo, e a medida do meu amor viajante, é não te ver e amar-te, como um cego.
Talvez consumirá a luz de Janeiro, seu raio cruel meu coração inteiro, roubando-me a chave do sossego, nesta história só eu me morro, e morrerei de amor porque te quero, porque te quero amor, a sangue e fogo.
Largo silêncio amadurece o Outono. o coração das folhas em letargo. de alcantilado bosque cai no sono O parque. Modorra a luz no lago. E a natureza ali rendida à calma escuta, toda ouvidos num nenúfar, rumores da Eternidade que a sua alma Antiga toca numa cana-de-açúcar. Natália Correia Imagem retirada do Google
a tua pura integridade delicada a tua permanente adolescência de segredo a tua fragilidade acesa sempre altiva Por ti eu sou a leve segurança de um peito que pulsa e canta a sua chama que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro ou à chuva das tuas pétalas de prata Se guardo algum tesouro não o prendo porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto que dure e flua nas tuas veias lentas e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva para que sintas a verde frescura de um pomar de brancas cortesias porque é por ti que vivo é por ti que nasço porque amo o ouro vivo do teu rosto António Ramos Rosa Imagem retirada do Google
Mas tu pensas que o mar te não esqueceu: por isso voltas cada ano a esta praia onde tudo o que permanece te ignora; e encaras o mar como se fosses tu, ainda tu, quem recebe na face a mudança dos ventos Luís Filipe Castro Mendes Imagem retirada do Google
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém. O sol no alto, fundo, enorme, aberto, Tornou o céu de todo o deus deserto. A luz cai implacável como um castigo. Não há fantasmas nem almas, E o mar imenso solitário e antigo, Parece bater palmas.
Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão. puxaste-me para os teus olhos transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua, ainda apanhámos o crepúsculo. As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar diferente inundava a cidade. Sentei-me nos degraus, do cais, em silêncio. Lembro-me do som dos teus passos, uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas, e a tua figura luminosa atravessando a praça até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é, o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali, continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha essa doente sensação que me deixaste como amada recordação.
Trago na palma da mão a luz diurna: e a ferida no flanco. O meu deus, o meu demónio, respira fundo e alto. Ela, a minha múltipla companheira, é uma coluna silenciosa e ardente. A luz sela esta aliança entre o sopro e a matéria e uma voz se eleva nos barcos do silêncio. António Ramos Rosa Imagem retirada do Google
Poderia falar da madrugada
-o tempo mágico-
e das vozes perdidas
entre gargalhadas
e sons inaudíveis.
Poderia falar da noite
que vem sempre
-inexorável e premente-
deitar-se connosco.
Mas, hoje, só posso falar
de saudade, de beijos;
imponderáveis e devaneios,
que me levam
-entre abraços e carícias-
ao fim do Mundo!
Paula Raposo, in "O Laço Impenetrável do Silêncio", pág.43, Chiado Editora