sexta-feira, agosto 28, 2009

Libertação



Fui à praia, e vi nos limos
a nossa vida enredada:
ó meu amor, se fugimos,
ninguém saberá de nada.

Na esquina de cada rua,
uma sombra nos espreita,
e nos olhares se insinua,
de repente uma suspeita.

Fui ao campo, e vi os ramos
decepados e torcidos:
ó meu amor, se ficamos,
pobres dos nossos sentidos.

Hão-de transformar o mar
deste amor numa lagoa:
e de lodo hão-de a cercar,
porque o mundo não perdoa.

Em tudo vejo fronteiras,
fronteiras ao nosso amor.
Longe daqui, onde queiras,
a vida será maior.

Nem as esperanças do céu
me conseguem demover
Este amor é teu e meu:
só na terra o queremos ter.

David Mourão-Ferreira

Imagem retirada do Google

3 comentários:

Fatyly disse...

Este poema é tão simples e bonito que ao ler senti o cheiro a maresia enamorada:)

Beijocas e um bom dia

Paula Raposo disse...

Sempre fantástico! Ainda hoje tirei uma foto ao lado dele no Parque dos Poetas em Oeiras! Inesquecível o momento...beijos e bom fim de semana.

mfc disse...

Obrigado por postares regularmente DMF.