terça-feira, novembro 04, 2008

Poema Nº 18



Aqui te amo.
Nos sombrios pinheiros desenreda-se o vento.
Brilha a lua sobre as águas errantes.
Andam dias iguais a se perseguir.
Dissipa-se a névoa em dançantes figuras.
Uma gaivota de prata desprende-se do ocaso.
Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.
Ou a cruz negra de um barco.
Sozinho.
Às vezes amanheço, e até a alma está húmida.
Soa, ressoa o mar ao longe.
Este é um porto.
Aqui te amo.
Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte.
Estou te amando mesmo entre estas frias coisas.
Às vezes vão meus beijos nesses navios graves,
Que correm pelo mar até onde nunca chegam.
Já me vejo esquecido como estas velhas âncoras.
São mais tristes os cais quando atraca a tarde.
Cansa-se minha vida inutilmente faminta.
Amo o que não tenho. Tu estás tão distante.
Meu tédio luta com os lentos crepúsculos.
Porém a noite chega e começa a cantar-me.
A lua faz girar a sua roda de sonho.
Olham-me com teus olhos as estrelas mais grandes.
E como eu te amo, os pinheiros no vento,
Querem cantar o teu nome com as folhas de arame.

Pablo Neruda

Foto retirada do Google

5 comentários:

A. Jorge disse...

Este poema é lindíssimo! Foi uma escolha magnífica!

Um beijo

Jorge

Fatyly disse...

Prisioneiro de si próprio dá asas ao pensamento.
Não conhecia!

Um bom dia *******

Paula Raposo disse...

Belíssimo poema! Obrigada pela partilha, mais uma vez e sempre. Já deixei no romãs o poema de que te falei. Depois me dirás se gostas. Beijos.

Lola disse...

Wind,

Um poema forte como o amor...

Beijos grandes

peciscas disse...

Um poeta e a sua ilha...Geográfica e íntima. Um isolamento que apurou as suas emoções.