segunda-feira, setembro 11, 2006
A semana
Devemos amar quando crianças.
Quando verdadeiramente somos
O medo e a solidão, a alegria e o contentamento
Em coisas demasiado simples, como
Parcerias em jogos de cartas, doces, guardados,
A vizinhança em assentos públicos.
Na idade adulta não se deve amar.
Não sabe o amor a idade da razão
Onde em si não cabe com o instinto animalesco da pureza.
Dizemos amar num tempo em que há o punho da sobrevivência,
Mas o amor não distingue a fome, e uma cegueira
Não alimenta o mesmo corpo que o pão corrói.
Amamos por piedade, por chão,
Amamos em agradecimento,
Amamos por pena, por cura, por limites,
Por precisão.
Amamos em detrimento, em culpa e abnegação;
Dizemos amar por paixão
Quando amamos em número,
E ávidos permanecemos escutando moedas e dentes
Em cerimônias e jornais.
Amamos por paz e por guerra,
Amamos por ódio, por reclusão,
Por definhamento e morte.
Somos amantes do companheiro, que é vão
Entre a arte e a solidão dos que só amam.
Amamos o medo que não nos deixa ficar sós,
E amamos as pessoas absolutamente sós, sós por nós
E que não tenham mais ninguém
A não ser os frutos do nosso conhecimento.
Buscamos amar o futuro e o passado –
Perseguimos o passado – e ambos não existem
Se o amor é onde e quando eternamente: amamos a vida –
A morte é a solidão desenvolvida.
Amamos sempre em 3ª. Pessoa,
Quando nosso cego propósito é um aniquilamento
Em nome de todas as formas verbais –
Amamos quando somos cegos.
E as vidas, como os amores e as mortes –
O amor e a morte são próximos
Como o ódio e a paixão –
Sempre acompanhadas de ritos e cerimônias ridículas,
Seguem pelas ruas a distribuir flores
E cartões de seasons.
Amamos quando estamos infinitamente doentes
De uma morte que se recupera – o amor é queda
E levitação.
Sejamos mais novos,
Envelheçamos como quixotes que geram sonhos e ilusões –
O amor é isto.
E não saberemos viver outra vida sem morte
Como não se cai sem estar de pé,
Como não se vê o sol sem estar de pé,
Como não se deve dizer como
Acabam os poemas,
Como findam as penas,
Como findam o amor e a semana,
Ou como ambos se renovam.
Weydson Barros Leal
Foto:Victor Skrebneski
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3 comentários:
Mais uma ausência que penso ter acabado e começar de novo as visitas regulares a quem as merece.
Vou ter de ler muito e apreciar as belas imagens que sempre expôes.
Beijos
ok.
li, reli...e não me convenceu.
mais, por tudo o que se diz no texto, concluo que é "Na idade adulta" que se deve amar.
que se pode amar, de facto.
que se sabe amar.
boa semana.
Forte...é o que posso dizer sobre este texto...forte.
Ainda estou a assimilar o que li
beijocas
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