quinta-feira, outubro 20, 2005

Vi o repouso da noite vacilante



Vi o repouso da noite vacilante
e as formas materiais recém-nascidas
sem que alguma voz viesse assinalar
o poço de veludo e os imóveis declives.
Mas um arco vazio vibrava sobre a língua
como um local de vento encerrado entre as
águas.
As mãos respiravam e dedos de perfume
acariciavam as sombras. Ecos, imagens,
reflexos, eram uma só toalha de
murmúrios.
Um rosto puro desenhava-se numa árvore
imperturbável.
De astro em astro a noite amadurecia.
O corpo era um sol negro e um barco
incandescente.

António Ramos Rosa

Imagem daqui

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